Sala de Poesia



MÃOS DUM ESCREVEDOR


Estas minhas mãos que, de maneira suave
Escrevem alegria, tristeza e dor…
Que pintam Natureza e enlevam amor,
Tanta vez sofrem o espasmo da vontade
Contrariando assim meu pensamento.
Sem qualquer contrato ou usura
Sua pele seca, vai-se tornando escura
E o revérbero é levado p’lo vento.


O brilho e o calor que transmitiam outrora
Começa a mirrar aos poucos, agora,
Deixando as veias mais percetíveis.
Estas minhas mãos que tanto trabalharam,
Que tantas  mãos sedosas afagaram…
Escrevem ainda, coisas previsíveis…


© Joaquim Marques


Porto -- PORTUGAL
       2013
  




ÊXTASE
(Louvando ao Senhor!)
Carmo Vasconcelos


Quando sentires com desalento
que foste traído pela vida
e te achares impotente na subida
do poço onde se afoga o teu tormento
e na escalada do abismo em que caíste…
Não julgues inaudível teu lamento,
lembra-te sempre que ELE existe!

Quando sentires amargurado
que o túnel para ti não tem saída,
julgando-te no mundo abandonado,
cão raivoso, águia ferida,
e que a vida assim já nada vale…
Açaima a tua fúria aguerrida,
aguarda apenas que ELE fale!

Busca-O no sol e no vento;
no verde mar que te rodeia;
no céu, ora azul ora cinzento;
nas estrelas, na brilhante lua cheia;
ou até... numa lembrança de outro tempo!

Busca-O na paz do moribundo;
no primeiro gemido da criança;
na rotação eterna deste mundo;
no germinar do grão lançado fundo;
na derradeira força de uma esperança!

Ouvirás em tudo a Sua Voz!
Sentirás então a Sua Paz!

Julgarás, em êxtase, que a Terra se virou
e que a outra dimensão tu aportaste…
Verás, depois, que nada se mudou,
a não ser tu... que sem saber mudaste!

Lisboa/Portugal





BAILANDO COM A CHUVA
Carmo Vasconcelos

Lá fora... cai a chuva indiferente
dançando nua, gelada e ondulante,
invade-me o seu frio penetrante
e ensopa-se a minha alma lentamente.

Baila com a chuva o meu imaginário,
a valsa de ontem, memórias esquecidas,
rodopiam sonhos, paixões adormecidas,
pecados inconfessos, segredos dum diário.

É um bailado grotesco, alucinante,
vertiginoso, cruel, fantasmagórico,
a um só tempo deprimente e eufórico,
sombras chinesas numa tela esvoaçante.

Lá fora...cai a chuva persistente!
Já mal a ouço, absorta em devaneio,
de alma alagada, mente náufraga, sem freio,
meu corpo enrodilhado e indolente.

Lá fora... pára a chuva de repente!
E um odor a seiva, a pão, terra molhada,
enxuga-me a alma e faz brotar a gargalhada
que devolve à vida o meu corpo já dormente.

Nas asas do vento morno o passado foge,
do porão da alma eu tranco as escotilhas,
mudo o cenário, troco as sapatilhas,
e volto para o palco, bailarina de hoje!
*** 
Carmo Vasconcelos
Lisboa/Portugal /1997
(In Antologia/2002 do Cenáculo Literário Marquesa de Valverde)

***





FADO MALHOA




(inspirado no quadro a óleo do pintor José Malhoa, intitulado "Fado")



Poema: José Galhardo

Música: Frederico Valério

Dito pelo actor

JOÃO VILLARET


Alguém que Deus já lá tem
Pintor consagrado
Que foi bem grande
E nos dói já ser do passado


Pintou numa tela
Com arte e com vida
A jóia mais bela
Da terra mais querida

Subiu a um quarto que viu
À luz do petróleo
E fez o mais português
Dos quadros a óleo

O Zé da Samarra
Com a amante a seu lado
A banza desgarra
Percorre a guitarra
E ali vê-se o fado

 Faz rir a ideia de ouvir
Com os olhos, senhores,
Fará mas não p'ra quem
Já ouviu mas em coro

A banza derrama
Canções de amargura
E há vozes de Alfama
Naquela pintura

Daqui vos digo que ouvi
A voz que se esmera
Boçal de um Faia brutal
Cantando a Severa
Aquilo é bairrista
Aquilo é Lisboa
Boémia e fadista
Aquilo é de artista
Aquilo é Malhoa
.







Hino Nacional Brasileiro

Meu Brasil

Meu Brasil

Hino Nacional Portugês

Pátria Lusa

Pátria Lusa